UE e Rússia abordam "mal-entendidos" e Barroso cita Dostoievski
"Tal como Dostoievski uma vez disse, muita tristeza veio ao mundo devido a confusões e coisas que ficaram por dizer. Foi com este espirito de dizer coisas que por vezes não dizemos que abordámos esta reunião, realizada num espírito de franqueza e abertura, e acredito que foi útil clarificar algumas questões. A nossa relação e interesses comuns são demasiado importantes para não tratarmos das nossas diferenças", afirmou José Manuel Durão Barroso, na conferência de imprensa após o encontro com o presidente russo, Vladimir Putin.
Num encontro realizado à sombra do diferente entre a UE e a Rússia devido às negociações de um acordo de parceria entre o bloco europeu e a Ucrânia -- que estiveram na origem da atual crise naquele país de Leste, devido ao recuo de Kiev na assinatura do acordo, alegadamente por pressões de Moscovo -, Barroso e o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, pelo lado da UE, e Putin asseguraram que esta "diferença" foi discutida e foi decidido criar grupos de especialistas para consultas bilaterais, com vista a avaliar o impacto de acordos de vizinhança, como a Parceira Oriental.
Tanto Durão Barroso como Van Rompuy reiteraram a sua convicção de que "a parceria (a Leste) não é contra ninguém" e "certamente não prejudicará a Rússia", defendendo que os parceiros de Leste devem ser livres de escolher o seu caminho, enquanto Putin asseverou que a Rússia "sempre respeitou a soberania" de todos os países, incluindo aqueles que emergiram da antiga União Soviética.
O presidente russo concordou com a "necessidade urgente de juntar especialistas para rever os mal-entendidos existentes" e lembrou que há diferenças noutras questões, como a firme oposição da Rússia ao terceiro pacote energético da UE.
Questionado sobre a ausência de resultados palpáveis na cimeira de hoje, Durão Barroso admitiu que pode testemunhar, a nível pessoal -- dado já ter participado, como presidente da Comissão, em "19 ou 20" cimeiras com a Rússia que "é verdade que há algumas questões, como no comércio ou energia", que não conheceram praticamente avanços ao longo de 10 anos, e as duas partes têm de "concordar em discordar".
Todavia, sublinhou que também foram feitos muitos progressos, alguns dos quais "espetaculares", nalgumas áreas, e, referindo-se designadamente à reunião de hoje, reiterou que foi "tão útil quanto necessária", pois "era altura de falar das diferenças, designadamente ao nível da parceria oriental".